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21/Jun/2025 - 11:44:03
Moisés Teixeira, da empresa Frango da Villa, fala sobre os desafios da Gripe Aviária no Brasil
RedaçãoDiante das recentes notícias sobre a presença da Gripe Aviária em granjas no Brasil, Jornal Rio Pardo conversou com Moisés Teixeira, da empresa Frango da Villa, grande criadora de aves e produtora de carne de frango, para entender como a empresa rio-pardense está posicionada no mercado e preparada para enfrentar este desafio.
Para começarmos, você pode nos dar uma visão geral da produção de frangos na empresa?
O Frango da Villa produz 140 toneladas de carne de frango diariamente, abatendo 70.000 aves. Todo fornecimento de frangos é feito pelas outras duas empresas do grupo – Granja São Marcos e Grupo Neto. São ao todo mais de 150 galpões, entre próprios e parcerias de integração, modelo no qual pintinho, ração e assistência técnica são fornecidos pela integradora, e o integrado presta o serviço de criação em seu galpão até a data do abate. São pouco mais de 3 milhões de aves alojadas simultaneamente para abastecer o abatedouro. As aves são abatidas em média com 44 dias após o nascimento.
Que tipo de sistema de criação vocês utilizam? E por que esse modelo foi escolhido?
A criação praticada pela empresa é a convencional, com as aves confinadas em galpões, com controle rigoroso de qualidade de água, temperatura do galpão, forração de piso e teto e ração balanceada por nutricionistas. Há ainda a produção de ovos de galinhas criadas no modelo caipira, onde galinhas tem espaço disponível fora do galpão para pastorear e desempenhar seu comportamento natural, voltando pra dentro do galpão para se alimentar, beber água e botar ovos.
Como é feito o controle de qualidade e o monitoramento sanitário nas granjas?
Veterinários e técnicos visitam semanalmente todos os galpões para verificar as condições sanitárias das aves, por meio de necropsias, coletas de sangue e analise física do frango. Muitas vezes as condições respiratórias e das fezes das aves podem demonstrar qualquer anomalia no lote e é possível antecipar o tratamento.
Há preocupação com o bem-estar animal? Quais medidas vocês adotam para garantir isso?
A empresa sempre foi preocupada com o bem-estar-animal, desde o nascimento, o transporte, o manejo com as aves, a ambiência, alimentação e água de qualidade. Da última década pra cá, os consumidores passaram também a se preocupar mais com a origem do alimento que consomem. Conectada a isso, a Granja São Marcos, empresa ligada ao Frango da Villa criou uma marca de produção de ovos de galinhas criadas livre de gaiola. Esse empreendimento produz quase 200.000 ovos por dia, oriundos de galinhas com certificação de bem estar animal e modelo de criação caipira e livre de gaiola.
Com os recentes surtos de gripe aviária em várias partes do mundo, como a empresa se prepara para prevenir a doença?
Todo o setor da avicultura brasileira é muito profissionalizado e preparado hoje em dia para conter um surto de uma doença como essa. Os núcleos (grupos de galpões) são todos registrados no Ministério da Agricultura e há coleta de exames laboratoriais periodicamente. No caso de mortalidade em um lote acima do normal, há necessidade de exame obrigatório. Vale ressaltar que houve apenas um núcleo em todo o Brasil com a doença identificada em aves comerciais. E rapidamente aquele núcleo foi bloqueado, as aves foram descartadas de maneira a destruir as carcaças.
Quais são os principais protocolos de biossegurança implementados nas granjas?
Todos os caminhões são desinfetados ao adentrar nas propriedades rurais. Nas granjas de frango de corte os funcionários desinfetam os pés e utilizam proteção para sapatos para entrarem nas granjas. Nas granjas de galinhas de postura e matrizeiros (aves produtoras de ovos férteis) é exigido banho e troca de vestimenta para adentrar ao estabelecimento. Visitas externas estão proibidas. Aves que estariam livres para pastorear estão retidas dentro dos galpões para evitar contato com aves silvestres no ambiente externo.
Os funcionários recebem treinamento específico sobre doenças como a gripe aviária? Como esse treinamento é feito?
Todos os funcionários de estabelecimentos de criação estão sendo orientados por nossos técnicos e veterinários para comunicar qualquer tipo de anormalidade em aves silvestres próximas aos galpões de aves. Também estão sendo reforçadas as informações de controles sanitários, proibições de visitas e redução do fluxo de movimentação de um núcleo para outro.
Existe um plano de contingência caso ocorra um surto? O que ele prevê?
Sim. O Ministério da Agricultura prevê e divulga planos de contingencia para casos de contaminação em aves silvestres que é aceleração na testagem do entorno de onde acontece o foco, aumento no rigor de ações de biosseguridade e no caso de foco em aves comerciais (frangos, galinhas, perus e patos para consumo humano) obrigatoriedade de ações de isolamento, descarte do núcleo com destruição das carcaças e enterro delas, vazio sanitário de 30 dias após limpeza das instalações, controle rigoroso do transito de aves, ovos, veículos e rações próximos ao local do foco, monitoramento com testagem de aves no entorno, suspensão de feiras e exposições, barreiras sanitárias nas propriedades afetadas e aumento no rigor da utilização de equipamentos de proteção individual para funcionários e agentes dos órgãos públicos envolvidos na contingência.
A empresa possui alguma parceria com órgãos públicos ou instituições de pesquisa para monitoramento e prevenção?
A empresa recebe fiscalização do órgão fiscalizador do estado (Defesa Agropecuária), faz monitoria por meio de exames em laboratórios particulares homologados pelos órgãos de fiscalização.
Por fim, como a empresa vê o futuro da avicultura diante de ameaças sanitárias como a gripe aviária?
Acredito que a carne de frango brasileira segue muito confiável. Sempre atendeu rigorosos parâmetros de qualidade e sanidade. Continuaremos sendo referência de produção mundial de carne de frango. É claro que ter o primeiro caso em granja comercial assusta, mas o Ministério da Agricultura, as Defesas Agropecuárias dos Estados e os próprios produtores estão muito preparados e organizados para conter essa doença que, é importante destacar, é perigosa para o plantel de aves do país, mas apresenta baixo risco para humanos.