Aproveitando os últimos dias de calor, os amigos inseparáveis Murilo Torres e Leandro Perilo proporcionaram aos filhos, Lucca e Zé Perilo Filho, uma pescaria de tirar o fôlego. Juntaram-se a eles Ronaldo, outro pescador da cidade vizinha de Mococa, e seu filho João. O encontro aconteceu no último final de semana, no rio Grande, no município de Planura.

Planura é uma cidade localizada às margens do rio Grande, na divisa entre Minas Gerais e São Paulo. A região é bastante conhecida entre os pescadores por oferecer várias espécies de peixes esportivos e saborosos, como dourado, pintado, traíra, tucunaré, piapara, entre outros.

As paisagens são lindas, com o pôr do sol sobre o rio e áreas de mata que tornam a pescaria ainda mais prazerosa.

Eles se hospedaram no aconchegante Rancho do Luiz, que, segundo Murilo, gostou tanto da turma que queria que eles ficassem ali este restinho de ano.

Cama Estreita e Pé Grande

Sexta-feira. Noite calma, daquelas em que a lua parece vigiar os homens de boné e vara na mão. Murilo, pescador de carteirinha e dono de iscas certeiras, resolveu levar o Lucca para uma pescaria noturna — pai e filho juntos, que coisa abençoada...

Após várias fisgadas e muitas latinhas de cerveja, veio o sono. Murilo decretou: hora de pegar o “berço”. Deitaram-se em camas separadas: Lucca numa mais larga e Murilo em uma cama de solteiro que parecia encolher a cada cochilo.

E foi aí que tudo aconteceu.

Murilo, embalado pelo cheiro da noite fria e pelo som do rio, sonhou que estava em casa, no conforto de sua cama de casal — e melhor ainda: ao lado de sua amada, num daqueles sonhos que fazem a gente sorrir mesmo dormindo. Coisa boa demais...

No sonho, ela o chamava. Ele se virava com ternura... e, na vida real: pláft! – caiu com tudo da cama estreita direto no chão duro. Um grito abafado, um gemido de dor, e Lucca despertou em pânico.

— Pai, que foi isso?

— Acho que abracei tua mãe no sonho e abracei o chão na realidade... — respondeu Murilo, entre uma careta e um suspiro.

Resultado? Uma costela fraturada.

Lucca, com rapidez de escoteiro e coração de filho, socorreu o pai, improvisou uma tala com uma vara de pesca quebrada e os dois encerraram a pescaria com uma história que virou comentário entre os pescadores da região.

Murilo ficou conhecido por lá como o “Pescador Cai-Cai”.

O Peixe da Discórdia

Na manhã de sábado, após uma noite fria e agitada com o tombo de Murilo, Leandro resolveu pescar apenas com seu filho Zé, já que Murilo estava completamente fora de combate.

Coisa rara, porque Leandro sempre dizia que Zé não tinha paciência nem pra esperar o leite esquentar, quanto mais um peixe morder o anzol.

Mas, nesse dia, deu certo. Pai e filho: varas nas mãos e isca no balde.

Depois de horas só olhando a água passar, eis que uma vara enverga quase ao ponto de dobrar.

— Fisguei! — gritou Zé, com os olhos brilhando.

— Nada, rapaz! Essa fisgada foi na minha vara! — rebateu Leandro, já puxando com força.

E aí começou o rebuliço. Os dois puxando, um de cada lado, jurando de pé junto que o peixe era seu. O bicho devia ser grande mesmo, porque fazia força, nadava pra cá e pra lá, e as varas pareciam prestes a estourar.

— Solta, Zé! Esse é meu!

— É nada, pai! Eu senti a fisgada primeiro!

Ali ficaram, puxando como num cabo de guerra. Até que aparece Ronaldo, que tinha ido buscar mais carvão pro churrasco.

— Que que tá acontecendo aqui, sô? — perguntou, com uma sacola de pão de alho numa mão e uma costela de vaca na outra.

— O Zé tá querendo roubar meu peixe! — disse Leandro.

— É o senhor que quer me passar a perna, pai! — retrucou Zé.

Ronaldo coçou a cabeça, olhou para os dois, olhou para as linhas e, sem dizer nada... entrou na água.

— Cês tão brigando e o peixe vai escapar. Deixa que eu resolvo isso!

Mergulhou e, alguns segundos depois, voltou com o peixe na mão. Era um briguento tucunaré, com dois anzóis na boca — um de Leandro e outro de Zé.

— Pronto. Empate técnico. Meio peixe pra cada — disse Ronaldo, rindo.

O churrasco daquele dia, além da costela, teve peixe assado com gosto de vitória e um pouco de orgulho amassado. Final feliz!