São José do Rio Pardo, ,

17/Mai/2025 - 11:55:37

Pescaria entre amigos no rio Pardo

Felipe Quessada




Nesses quase vinte e dois anos de Histórias de Pescador, já ouvi de tudo — ou quase tudo. Cada vez que escuto uma história “cabeluda”, penso: “Igual a essa, não tem mais.” No entanto, estou sempre enganado. Sempre aparece uma que não dá pra acreditar. Mas, quem sou eu pra duvidar dos causos que me contam? No fundo, acham que sou da mesma “laia”: mentiroso quando o assunto é pescaria...

Na empresa onde trabalho, tenho dois companheiros: o Benedito — mais conhecido como Nego Véio — e o Edmilson Coelho. Ambos são extremamente profissionais no que fazem. O problema é que vivem contando histórias de pescaria, e parece até que um quer ser mais mentiroso que o outro.

Entre uma história e outra, Nego Véio desafiou o companheiro, afirmando que conseguiria fisgar uma tilápia com o dobro do tamanho da dele — isso se ele conseguisse fisgar alguma coisa. Ouvi com atenção as propostas dos “meninos” e, imediatamente, intimei-os a irem no domingo até meu rancho e colocarem à prova suas habilidades. O resultado daria ao vencedor o título de “Garoto das Tilápias”.

Era domingo. O sol nascia preguiçoso quando Nego Véio e Edmilson chegaram no rancho, acordando todo mundo — inclusive meu filho e meus netos. Armaram os trens logo cedo: vara, minhoca e uma caixa de isopor mais cheia de cerveja do que de esperança. Sentaram nos banquinhos e começaram a contar causos.

Depois de um tempo, Nego Véio sentiu um puxão forte.

— Hoje vai sair tilápia que nem sabão em chão molhado! — disse ele, com aquela confiança de quem já mentiu muito sobre o tamanho dos peixes.

— Rapaz, essa é das grandes!

A vara envergou de um jeito que parecia que o anzol tinha agarrado num trator. Edmilson correu, tropeçou numa raiz, caiu de bunda na lama, mas ainda conseguiu ajudar:

— Puxa com força, mas cuidado, senão ela leva nós dois!

Depois de uns cinquenta minutos de luta, saiu uma tilápia tão grande que parecia um tambaqui disfarçado. Nego Véio arregalou os olhos:

— Se eu não tivesse visto, não acreditava. Essa tilápia deve ter comido as outras tudo!

— Vamos tirar foto! Mas segura assim, ó: com os braços esticados, pra parecer maior.

Foi nesse exato momento que o bicho deu uma rabada no rosto do Nego Véio, deu um mortal e caiu no rio, sumindo de vez.


Tilápia que sorria

Após esse episódio, a pescaria continuou. Edmilson não parava de tirar sarro do Nego Véio, quando, de repente, a boia da sua vara afundou como pedra! Ele puxou com força, quase caiu sentado de novo, mas segurou firme.

Quando a tilápia surgiu à tona… ele congelou.

Era uma tilápia grande — mas o detalhe mais esquisito é que ela estava sorrindo. Isso mesmo: sorrindo, com os dentinhos miúdos de fora, como se estivesse zombando.

— Cruz credo! — gritou Edmilson. — Nunca vi peixe que debocha do pescador! Será que a tilápia que o Nego Véio deixou escapar contou pras outras?

Mesmo assustado, ele colocou a tilápia no balde… e, mais tarde, na frigideira.

Contudo, o resultado da pescaria criou um problema: Nego Véio fisgou o maior peixe, mas não levou. Já Edmilson fisgou o menor… e fritou.

Para consolar o Nego Véio, acabei entrando em ação, dizendo:

— Nego Véio, se o problema tem solução, não esquenta a cabeça, porque tem solução.

Mas, se o problema não tem solução… não esquente a cabeça, porque não tem solução.


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