São José do Rio Pardo, ,

10/Mai/2025 - 11:50:53

O bar nosso de cada dia

Felipe Quessada





Sábado cedo, como de costume, fiz um passeio pela cidade e, quando passava em frente ao Bar do Nego II, no bairro Vila Formosa, fui abordado pelo amigo Murilo Torres, que de imediato me intimou a tomar uma gelada. Pensei quase duas vezes e lá “apoitei”.

Não demorou muito e a “casa” lotou, a viola tocou, o Marcos Silva cantou e a churrasqueira torta estralou.

Os amigos do Bar do Nego se reúnem diariamente para tomar umas “biritas”, trocar ideias e contar mentiras.

Pra se ter uma ideia, os frequentadores elegeram um presidente: o mais velho do grupo, que faz questão de marcar presença, bem como receber, de outro frequentador, a importância de cinquenta centavos de pinga por dia — uma forma simbólica de reconhecimento pelos favores prestados ao longo dos anos.

Petiscos quase não tem, mas tem uma famosa churrasqueira torta, que mais parece a Torre de Pisa da Itália. Carinhosamente, os frequentadores a apelidaram de “boca de dragão”.

Dizem que a churrasqueira do bar é torta porque foi construída numa ressaca de domingo, mas há quem acredite que ela tem poderes místicos. Certa vez, segundo o Chiquinho, frequentador assíduo do estabelecimento, eles estavam assando um carneiro e o bicho caiu no chão — mas caiu em pé dentro da grelha de novo! Chiquinho jurou que viu a carne dar um mortal no ar. Desde então, antes de cada churrasco, todo mundo bate três palmas e diz: “Churrasqueira torta, carne certa!”


A VIOLA QUE TOCOU SOZINHA

Nego é o dono do bar — pessoa boa de lidar, serve umas “brejas” bem geladas, pilota a “torta” com presteza, mas conta umas histórias que até Deus duvida. Porém, temos que ouvir e concordar; caso contrário, a cerveja vem quente e a carne, bem passada. Assim ele mandou esta:

“Numa noite de sexta-feira, depois de muita prosa, churrasco e moda de viola, o Marcos Silva, já cansado de cantarolar, foi embora e deixou seu violão encostado na parede do bar. No sábado, bem cedo, quando cheguei para abrir o estabelecimento, ouvi o violão tocar sozinho a música ‘Ainda ontem chorei de saudades...’ Juro que é verdade.”


PEIXE VOADOR

Murilo não é o presidente, mas lidera o grupo. Quando fala, todos prestam atenção. Em certo momento das prosas, contou que está programando uma pescaria com seu filho Luca e emendou com uma história cabeluda, mais ou menos assim:

– Semana passada eu e meu filhão fomos pescar no rio Pardo e acabei pescando um lambari... que voava!

A mesa caiu na risada.

– Lá vem o Murilinho com as histórias dele! – disse Zé X.

– Não tô mentindo, pode perguntar pro Felipe, foi no rancho dele. Eu estava pescando sossegado, quando vi um cardume de lambaris pulando pra fora d’água. Até aí, normal, né? Mas um deles bateu na vara, voou direto pro meu boné, fez curva no ar e caiu dentro do meu isopor de cerveja!

– Ele ficou lá? – perguntou indignado o João Gordo, já rachando o bico de rir.

– Sim, nadando na água gelada entre as latinhas de cerveja, como se fosse aquário. Se alguém duvida, moro aqui pertinho e vou lá buscar o caixa. O bichinho tá lá até hoje. Só troco a água uma vez por dia e alimento ele com minhocas do meu quintal!


GOIABINHA 220

Apesar de conhecer todos os “meninos”, o que mais me chamou a atenção foi o Goiabinha. O garoto é ligado no 220, não para um minuto! Foi só o Zé Carlos Xavier dar a ordem e lá foi o jovem: comprou carnes, pegou madeira seca no pasto ao lado e acendeu a boca do dragão. O resultado? Parei para tomar uma cerveja e acabei passando a tarde inteira debaixo da sombra de uma bonita mangueira, ao lado de pessoas maravilhosas, curtindo um churrasco delicioso ao som das músicas tocadas e cantadas por Marcos Silva.


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