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19/Abr/2025 - 19:25:54
O barco virou e o peixe riu
Felipe QuessadaEsta semana encarei um dos maiores medos da vida adulta — maior até que
boletos vencidos: o temido dentista. E olha que não estou sozinho nessa fobia,
hein? Acho que tem gente que prefere enfrentar um cobrador na porta da sua
casa, do que aquele motorzinho infernal.
Com a intenção de fazer uma revisão geral da boca (leia-se: checar se
ainda tinha dentes em pé), fui até o consultório do meu camarada Márcio Jardim.
Além de bom de obturação, ele também é pescador de carteirinha — daqueles que
contam bem suas histórias.
Nem bem sentei naquela cadeira que mais parece um trono do mal, o Márcio
já começou a preparar seus instrumentos de tortura... digo, de trabalho... e
sem cerimônia, mandou ver na história do final de semana. Acho que foi uma
tática ninja pra me distrair da dor — principalmente a dor no bolso, que viria
ao final do orçamento.
Eis a saga do Doutor Pescador:
“Você sabe que sou pescador das antigas, né? Daqueles que não mentem
(muito). No domingo passado, fui com meu filho, Marcos Paulo Jardim, pra
represa de Caconde com a missão sagrada de pegar um tucunaré graúdo — o tipo de
peixe que agrada a patroa no almoço e evita a janta fria.
Prometi pra ele que a gente ia pescar um peixe do tamanho de um carro
Gordine (ainda bem que ele nunca viu um). Levei tudo: isca, anzol, chapéu, até
um rádio velho pra tocar uns modão. Só esqueci de levar juízo.
Já era mais de 10h, o sol fritando até pensamento, e nada de peixe.
Tirei o chapéu pra me abanar, larguei o manche do barco, puxei um sanduíche de mortadela
e entrei no modo contemplação da natureza. Foi aí que meu filho berrou:
– Pai! A vara tá balançando! O peixe é grande! Fisga, fisga!
– Calma, meu filho! Primeiro a gente termina de mastigar. Peixe não tem
pressa, hoje é domingo, ele também tá de folga.
De repente, um bocudo — mas um bocudo atrevido, daqueles que já nasceram
fazendo bullying — fisgou a linha. No caos, meu filho tentou ajudar, o rádio
caiu na água, e pra piorar, passou uma lancha doida do nosso lado. A onda veio
igual tsunami e... plash!
O barco virou! Nós boiando nas águas (até que limpinhas) do rio Pardo, o
sanduíche flutuando por ali como um salva-vidas gourmet e o rádio ainda
funcionando, tocando:
“Lá vai uma chalana, bem longe se vai...”
Alguns segundos depois, o rádio calou. E então, ouvimos um som vindo da
água... risadas! Sim, risadas!
Foi nesse ponto que, mesmo com a boca meio anestesiada e a mão do Márcio
enfiando espelho até a alma, perguntei:
– Jardim, cê não vai me dizer que a risada era do tucunaré, né?
– Pode acreditar, meu amigo... o bicho escapou do anzol e ainda ficou
rindo da nossa cara!
Resultado da pescaria? Após sermos resgatados pelo amigo Pedrinho
Perilo, conseguimos só um filhote de tucunaré. A patroa não ficou
impressionada, mas pelo menos ninguém morreu afogado.
Nós e o Meio Ambiente
A relação entre nós, seres humanos, e o meio ambiente é tipo casal em
crise: dependemos um do outro, mas vivemos brigando.
A natureza nos fornece tudo: ar, água, comida e até lugar pra pescar e
dar vexame. Só que a gente insiste em causar: poluição, desmatamento, mudança
climática e sumiço da bicharada.
Cuidar do meio ambiente não é só ser "ecochato" — é ser
esperto. É garantir vida boa pra nós agora e pros nossos netos depois. Ou seja,
se a gente continuar zoando com a natureza, vai chegar uma hora que nem peixe
pra contar história vai ter.